Os horizontes da saúde em 2024
O ano de 2023 foi bastante desafiador, com a demanda repimida pela pandemia, aumentos de doenças, escalada de custos e aumento de sinistros. O que vem por aí?
Emerson Gasparetto | Governança e gestão em saúde
Nosso setor atravessou um período bastante desafiador em 2023 - o primeiro ano pós-pandemia, de fato - com a retomada da demanda reprimida pela crise sanitária, e um natural aumento de enfermidades em estágios mais críticos, assim como a escalada de custos do setor e o aumento da sinistralidade.
Por outro lado, assistimos um avanço significativo na transformação digital, como a consolidação e ampliação da telemedicina, incorporação de Inteligência Artificial em diversas etapas da cadeia de cuidado - do diagnóstico à gestão - incluindo o uso do metaverso, da bioimpressão e da impressão 3D.
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Começando um novo ano, nos cabe refletir sobre o panorama que se apresenta em várias dimensões da nossa área. Em 2024, o cenário deverá continuar imerso na transformação digital, um movimento que permeia tanto a esfera pública quanto a privada. A ascensão da saúde digital se destaca como uma peça fundamental nos projetos de expansão de acesso, impulsionando a otimização dos processos, aprimorando a prestação de serviços e, principalmente, colaborando para fortalecer a sustentabilidade. Investir fortemente na medicina preventiva é uma peça-chave para obter melhores desfechos e avaliar a eficácia da incorporação de tecnologias. Exemplos, como a utilização de IA na aceleração do diagnóstico do câncer de mama, evidenciam o potencial transformador dessas inovações.
Regulação e incorporação
O debate sobre a incorporação de tecnologias na saúde assume um papel crucial diante do horizonte que aponta para redução lenta da sinistralidade, segundo o relatório Setor de Saúde no Brasil – Perspectiva 2024 (lenta recuperação da rentabilidade em 2024) da Fitch Ratings1, e o envelhecimento populacional projetado pelas pesquisas demográficas. A discussão sobre a interoperabilidade dos dados dos pacientes ganha relevância, alinhada à incorporação da inteligência artificial em um espectro mais amplo do que o atual. A regulação do seu uso permanece em pauta, evidenciando a necessidade de diretrizes claras para seu emprego no setor.
Sustentabilidade e governança
A equidade no acesso, a qualidade e a segurança dos serviços de saúde, bem como a sustentabilidade dos sistemas, dependem da transformação digital em todas as esferas: clínicas, assistenciais, educacionais e de gestão da cadeia de valor. A governança clínica surge como o ponto de convergência para acelerar essa mudança, refletindo o propósito daqueles que se dedicam à saúde em todos os níveis da sociedade. A adoção de parâmetros claros e transparentes para avaliar a governança também será uma das dimensões relevantes no debate neste ano que começa.
Para aprimorar a gestão, a superação da fragmentação de processos se torna uma necessidade premente. A adoção simultânea de sínteses de evidências pelas instâncias reguladoras do setor público e da saúde suplementar emerge como uma estratégia para agilizar a avaliação de novas tecnologias, promovendo uma abordagem mais integrada e eficaz. Reforço novamente a importância de indicadores de segurança, qualidade e desfecho compartilhados por todos os stakeholders.
O panorama de 2024 no setor de saúde brasileiro é delineado pela convergência entre a transformação digital, a busca pela sustentabilidade e a melhoria contínua na prestação de serviços, onde a incorporação inteligente de tecnologias e o aprimoramento da governança são pilares fundamentais para atender às demandas crescentes e complexas desse cenário em constante evolução.
Referências
1. Fitch Ratings.. “Setor de Saúde no Brasil – Perspectiva 2024 (lenta recuperação da rentabilidade em 2024). Disponível em: https://www.fitchratings.com/research/pt/corporate-finance/brazil-healthcare-outlook-2024-04-12-2023